quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Quem é a Rosa de Saron? É Jesus ou a Igreja?
A igreja começou sua existência com um livro, mas não é ao livro que se
deve essa existência. Compartilhava esse livro com o povo judeu. Na
verdade, os primeiros membros da igreja eram, sem exceção, judeus. Mas
entre os livros canônicos, os considerados sagrados pela igreja, teve um
que sempre ocupou um espaço de dúvida e questionamentos. Este é o livro
de Cantares, ou Cântico dos Cânticos, ou mesmo Cânticos de Salomão,
principal personagem neste livro e autor de seus poemas.
Salomão era filho de Davi e Bate-Seba e o homem mais sábio de toda a
história de Israel. Salomão tornou-se rei e foi escolhido para construir
o Templo em Jerusalém. Deus deu-lhe uma sabedoria extraordinária.
Grande parte de seu reinado foi caracterizado por sua sabedoria e
reverência a Deus. Salomão escreveu mais de três mil provérbios e mil
cânticos, Cantares é um destes cânticos. Para conhecer melhor a história
dele leia os textos em 1 Reis 1-11; 1 Crônicas 28 a 2 Crônicas 9.
Há três personagens deste livro: a Sulamita, Salomão e o coro composto das “filhas de Jerusalém”.
Salomão e Sulamita
A tradição literária sobre a história de Salomão e Sulamita é narrada,
de forma poética, no livro dos Cânticos. Salomão frequentemente
inspecionava as cidades de seu reino. Um dia, enquanto visitava algumas
vinhas ao norte, sua comitiva foi surpreendida por uma bela camponesa
que cuidava das vinhas. Envergonhada, ela fugiu. Mas Salomão não
conseguiu esquecê-la. Mais tarde, disfarçado de pastor, retornou ás
vinhas e conquistou o amor daquela jovem. Então, revelou sua verdadeira
identidade e pediu-lhe que voltasse para Jerusalém. Salomão e sua amada
se casaram na época em que o livro foi escrito.
A moça que cativou o coração de Salomão era de Suném, uma comunidade
agrícola situada a aproximadamente 96 quilômetros ao norte de Jerusalém.
Jesus é a rosa de Saron?
Tem havido muitos debates a respeito do significado de Cantares. Alguns
afirmam que é apenas uma alegoria do amor de Deus por Israel. Alguns que
é o amor de Cristo pela igreja. Fosse assim ambos estariam corretos,
pois a igreja é o Israel do Novo Testamento. Mas outros insistem que é
sobre o amor conjugal. Mas na verdade é as duas coisas, os dois
significados estão presentes. Sendo assim, surge a questão: Em Cantares
2.1 Jesus é a Rosa de Saron? Não.
Para entendermos este capítulo não é necessário muito alarde, é uma
questão simples de interpretação. E se não bastasse o auxílio da
interpretação exegética (versículo por versículo) podemos utilizar de
ferramentas literárias que estão ao nosso alcance.
No caso do texto do capítulo 2, basta um simples exame do livro, usando a
versão Almeida Revista e Atualizada para dissipar de uma vez por todas
esta suposta contradição. Nesta versão encontramos um título que indica
quem está falando; ora a esposa, ora o esposo, ora as filhas de
Jerusalém. No texto de Cantares 2.1, encontramos em cima da fala o nome:
“esposa”.
Se ainda paira dúvida quanto à afirmação ser do amado ou da amada, o
texto original decide a questão quando se observa que as terminações das
palavras são as do feminino. A letra “Tav” no final da palavra indica
feminino.
No fim do capítulo 1, o noivo diz: “Eis que és formosa, ó amiga minha,
eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas” (v.15). E a
noiva responde: “Eis que és gentil e agradável, ó amado meu; o nosso
leito é viçoso. As traves da nossa casa são de cedro, as nossas
varandas, de cipreste (vv.16,17).
Em Cantares 2.1, a noiva, que terminou falando no fim do capítulo 1,
prossegue: “Eu sou a rosa de Saron, o lírio dos vales”. No versículo 2, o
noivo responde: “Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amiga
entre as filhas”, deixando claro que “rosa de Saron” e “lírio dos vales”
se referem à noiva.
Portanto, é a donzela sulamita quem diz: “Eu sou a rosa de Saron, o
lírio dos vales” (Ct 2.1), posto que, logo em seguida, o noivo responde:
“Qual lírio... tal é a minha amiga” (Ct 2.2).
Naquela época a rosa de Saron e o lírio dos vales eram as flores comuns
em Israel. Ao comparar-se a elas, é possível que a Sulamita estivesse
dizendo que não era tão especial , mas uma mulher comum. Então o amado
responde que ela era extraordinária, um “lírio entre os espinhos”.
“Eu sou a rosa de Saron” - Ani Havatselet há Sharon (original hebraico).
A Havatselet é uma flor rara que nasce nas areias dos desertos e neste
texto é mencionada simplesmente como rosa, no caso, de Saron. Que era
uma planície, no original hebraico é “Sharon” que significa “plano,
planície”.
A planície costeira de Israel é chamada de Sharon, ela fica ao sul do
monte Carmelo, a parte fértil e úmida da região. Os sábios judeus
compararam os justos ás rosas do vale, que são as mais belas de sua
espécie. Elas mantêm o frescor dos vales úmidos. Enquanto isso, os
“reshaim” (perversos) são semelhantes às rosas das montanhas, que pouco
duram porque secam sob a inclemência da natureza, e esvoaçoando com o
vento.
A rosa requer bastante claridade, o que ela obtém nas planícies do
Sharon. Os largos espaços são ideais para que sua fragrância se espalhe.
O gado de Davi pastava em Sharon, sob o comando de Sitrai, o saronita
(1 Cr 27.29).
(Bibliografia: Mensageiro da Paz, Marcelo de Oliveira; Bíblia de Estudo
Pentecostal, editora CPAD, p.984; Comentário Bíblico Africano – Adeyemo,
editora Mundo Cristão; Comentário Bíblico Matthew Henry – AT, editora
CPAD; Dicionário Bíblico Vine, editora CPAD; Dicionário Bíblico, editora
DCL; Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, editora CPAD; O Cânon das
Escrituras – F.F. Bruce, editora Hagnus; História dos Hebreus – Hávio
Josefo, editora CPAD)
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