A Bíblia é a infalível Palavra de Deus, e embora tendo sido escrita por vários autores ao longo da história, foi inspirada unicamente pelo Espírito Santo, e sendo assim, é de autoria de uma única pessoa. Desta forma, quando o Apóstolo Pedro, por exemplo, foi inspirado para escrever suas epístolas, ele o fez com a sua própria forma de se expressar, usando seus próprios conhecimentos da língua grega, seus conhecimentos históricos e geográficos, cometendo erros ortográficos que cometeria se estivesse escrevendo uma receita culinária. Mas, no que diz respeito à revelação da verdade inspirada, esta veio diretamente da única fonte de inspiração de toda a Escritura: o Espírito Santo.
O debate em torno de qual versão da Bíblia é a mais confiável tem assumido um contorno de “guerra das bíblias” nos últimos tempos.
De um lado estão os conservadores, que advogam que a Bíblia que nós protestantes temos usado por quase 2.000 anos deve ser mantida como está, como a Almeida Fiel da Sociedade Bíblica Trinitariana, uma vez que é tida como o texto que herdamos da igreja primitiva. Isto é inegável.
Do outro lado estão aqueles que defendem que devemos acatar os melhores textos encontrados pela arqueologia. Melhores textos, neste caso, são textos reconhecidos como mais antigos, como o Código Sinaiticus, por exemplo, e desta forma, mais próximos dos originais, e assim, possivelmente mais corretos.
Para este grupo, mais antigo significa mais correto, enquanto que para os conservadores, um texto antigo, que foi desprezado pela igreja no decorrer dos séculos, significa um texto corrompido, que foi guardado dentro de um vaso qualquer, tendo apenas valor histórico e não canônico, ainda mais que o Sinaiticus, origem de toda discordância, é um documento que só foi redescoberto nos anos 1840, e ainda por cima, num mosteiro católico no Egito. Conforme o testemunho de Constantin von Tischendorf, arqueologista de Leipzig, um dos primeiros a ver no local estes documentos em 1844, encontrou boa parte dos manuscritos numa lata de lixo, tendo sido informado que seriam queimados posteriormente.
O Antigo Testamento do Sinaiticus é cópia da Septuaginta, mas, para além dos livros canônicos, possui também cópias dos apócrifos 2 Esdras, Tobias, Judite, 1 e 4 Macabeus, Sabedoria, e Siríaco. Já o Novo Testamento foi acrescido dos livros Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas, ambos rejeitados pela igreja primitiva. Só por este indicativo se pode concluir que o Sinaiticus nunca teria sido usado pela igreja, porque se por um lado se propuser que o cânon do Novo Testamento ainda não estaria fechado naquele tempo, o do Antigo já estava há mais de 6 séculos.
Se é tão bom assim, perguntam os conservadores, por que ficou 1840 anos guardado? E se é tão bom assim, por que os católicos, donos deste texto, não substituem a Bíblia católica, chamada Vulgata, por esta nova versão? É uma coisa confusa, uma vez que o próprio papa afirma que a Vulgata é a única Bíblia inerrante entre todas as demais, ao mesmo tempo que as sociedades bíblicas estão cheias de bispos católicos incentivando que os protestantes adotem estes novos textos. Coisa estranha.
Para o primeiro grupo interessa dividir o meio protestante inserindo um ponto de discórdia com a finalidade de promover o ecumenismo, afinal, segundo eles, católicos e protestantes servem ao mesmo Deus.
Será? Porque parece que o Deus dos protestantes abomina os santos católicos, tanto que os dois primeiros mandamentos dados a Moisés falam disto, inclusive na infalível Vulgata do papa.
Mas a ideia aqui é promover o ecumenismo como forma de discordância entre nós protestantes, porque isto vai colocar irmãos de uma mesma denominação uns contra os outros, e no final, o inimigo do meu inimigo é meu amigo, e desta forma, declarada a guerra, vemos no mesmo exército bispos católicos combatendo lado a lado com proeminentes personalidades protestantes contra protestantes conservadores.
O resumo da ópera é o seguinte: A Bíblia da reforma, que tirou o mundo da idade das trevas, do medievalismo, do terror implantado pela igreja católica em todo o mundo, que interrompeu a inquisição católica que queimava os crentes em Jesus como hereges, que atendeu por séculos a grande comissão de Jesus não serve mais. De repente, de uma hora para outra descobriram uma versão melhor para a Palavra de Deus; como se o Senhor nos tivesse abandonado por vinte séculos até que chegassem estes iluminados para reconduzir a humanidade no caminho da salvação.
Esta nova onda não vem desacompanhada. Paralelamente à falsificação da Bíblia, as livrarias evangélicas estão abarrotadas de livros que pregam abertamente heresias. Aliás, existem heresias para todos os gostos, desde a teologia da prosperidade, maldição hereditária, lençinho abençoado, fronha dos sonhos, enfim, estas coisas que as pessoas mais simples gostam, até algumas mais sofisticadas, para consumo de intelectuais.
Heresia de intelectual é uma que tenho aqui em mãos, um livro intitulado História e Religião de Israel (Editora Vida), escrito por Jorge Pinheiro, ecumênico, pastor da Igreja Batista de Perdizes, se é que ainda anda por lá. Acrescente-se que além de pastor é professor e orientador de mestrados da Faculdade Batista de Teologia em São Paulo. Na página 130 do referido livro, o autor diz com todas as letras que os capítulos de 7 a 12 de Daniel não são de autoria do Profeta, mas foram sim escritos quatro séculos depois da morte de Daniel, ou seja, depois de todas as profecias escritas já haverem acontecido. Já perguntei para um monte de gente como este cara é professor de uma faculdade teológica batista, mas ninguém sabe explicar.
Mas, voltando ao nosso assunto, num aspecto prático, quando se fala das diferentes traduções, para se entender o que acontece, a coisa funciona assim: os tradutores não traduzem nada; simplesmente pegam a Almeida Fiel, comparam com o Código Sinaiticus e outros textos do mesmo grupo, e o que não está lá é cortado aqui. E cortam palavras que tiram a força do texto, e quando não cortam, colocam entre colchetes frases inteiras explicando no rodapé que aquele texto marcado não se encontra nos melhores manuscritos, que vêm a ser justamente os deles. É o caso da Almeira Revista e Atualizada (ARA).
Não te parece que seja muito atrevimento, mais que isto, um ato de insanidade, que alguém pegue a Bíblia que vem sendo usada desde sempre, vinte séculos, e baseado numa versão abandonada num mosteiro católico venha a público dizer que esta é a original? E saia alterando o Texto Sagrado sem qualquer peso de consciência ou temor de Deus por estar alterando a sua Palavra?
Já o caso da Bíblia na Linguagem de Hoje é diferente: o Texto base é o chamado Texto Crítico, e a tradução é por equivalência dinâmica.
No trabalho de tradução de textos existem dois métodos: Equivalência Formal e Equivalência Dinâmica.
O princípio da equivalência formal procura manter a tradução o mais próximo possível do exato significado das palavras do texto que está sendo traduzido. Foi por este método que Almeida traduziu nossa Bíblia, porque Almeida cria na inspiração plena da Escritura, e não se atreveu a alterar nada, apenas traduzir.
Já no princípio de equivalência dinâmica, o que importa é transmitir a intenção do texto, deixando em segundo plano o significado exato da palavra. No caso da Bíblia, quando se faz isto, coloca-se, automaticamente em questão a inspiração divina, colocando-se em evidência a falibilidade da Bíblia. É como se o tradutor dissesse: “se eu não explicar isto ninguém vai entender… vou colocar aqui o que eu acho certo”. Então ele coloca alí o seu próprio ponto de vista sobre o que significa o que está traduzindo. Mas seria infalível o ponto de vista de um cara de mentalidade ocidental, que fala português, e vive no século XXI, sobre um assunto cujo contexto é o primeiro século, num texto pensado numa cultura oriental, onde se fala aramaico e se escreve em grego?
O princípio mais básico da interpretação bíblica afirma que a única pessoa inspirada foi o autor do documento. Ninguém mais, nenhum tradutor, intérprete, nenhum teólogo, foi inspirado para coisa alguma. Nem Almeida foi inspirado a traduzir. A motivação de Almeida foi o temor de Deus, por isto ele traduziu palavra por palavra conforme escrito no Textus Receptus.
Mas a verdade é que estas novas versões da Bíblia vieram para ficar, e serão cada vez mais numerosas. E da mesma forma que nos últimos anos desapareceram das livrarias os hinários tradicionais, será cada vez mais difícil encontrar a edição Fiel de Almeida. Tente achar, por exemplo, um Cantor Cristão. Não vai encontrar facilmente.
Então teremos que viver com elas, e sabe o que? Não é possível tirar da Bíblia a sua mensagem. Como exemplo disto, cito aqui Marcos 9:24, cujo contexto é a história de um pai que traz para ser curado por Jesus seu filho, que desde a infância é atacado por um espírito mudo. Este pai suplica a Jesus: “se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos”; ao que Jesus lhe responde: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê”.
O verso 24 de Marcos 9 traz a resposta do pai do menino. Vejamos como é traduzida esta resposta em quatro diferentes versões da Bíblia:
Apenas a versão Fiel de Almeida traz a palavra “Senhor”, as demais omitem. Omitem porque embora esteja no Textus Receptus, fonte utilizada originalmente por Almeida, não se encontra a palavra “Senhor” no texto Sinaiticus encontrado pelos católicos.
Então, as perguntas que devemos fazer são as seguintes: Não foi sempre o texto Fiel que nossos irmãos do passado leram em suas bíblias? Qual parece ser o mais fidedigno? Qual o que não omite a deidade de Jesus? Qual o mais tocante do ponto de vista do drama pelo qual passa esta família? Qual é o original? Evidentemente é o texto Fiel. Lembrando que o texto Fiel de Almeida é o mesmo que foi utilizado sempre pela igreja, de que maneira que devemos nos indagar como um novo texto que omite uma qualidade tão sublime de Jesus poderia ser melhor?
Não poderia ser melhor, mas na intenção de rebaixar subliminarmente a divindade de Jesus encontra-se o propósito de equipará-lo a Maria, porque os católicos não têm uma trindade, mas quatro pessoas de valor equivalente. Aliás, nem sei se isto está certo, porque de acordo com a reza católica, Maria é a mãe de Deus. Tudo por Jesus, nada sem Maria, dizem os católicos fervorosos. Desta forma, quanto menos se exaltar Jesus, mais fácil torná-lo equivalente a Maria.
Mas há diferentes versões da Bíblia nas prateleiras das livrarias em nossos dias. São todas confiáveis? Qual delas é a melhor, qual devo adotar para ser a minha Bíblia?
Para nós, que falamos o português, a Bíblia Almeida Fiel da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, ou equivalente de outra editora, é a melhor, melhor porque é a única, só tem uma.
Mas se a versão que você usa não é esta, o que fazer?
Deveria trocar e ficar com a original, mas, se não é possível fazer isto, deve ficar com a que tem e aprender a interpretar a Bíblia, porque embora se reconheçam centenas de erros nas versões adulteradas, nenhuma delas ainda assim consegue omitir o Evangelho, nem mesmo a Bíblia na Linguagem de Hoje, que é a mais distante em termos de tradução dos textos originais.
Voltando ao exemplo de Marcos 9:24, que nas versões adulteradas omitem, ou tentam minimizar a deidade de Jesus, veja que o Evangelho de Marcos (Mc 1:1) começa declarando que Jesus é o filho de Deus. Então é de pouca valia omitir a deidade do Senhor em Marcos 9:24.
Portanto, saber ler e interpretar a Bíblia é tão ou mais importante que ter a versão original da Bíblia. A Bíblia não pode ser lida por versículos, como faz a maioria dos crentes, mas sim, pelo contexto da mensagem, o que significa todo o livro, ou minimamente, o capítulo anterior inteiro e também o posterior, e não apenas o verso que se examina.
Cabe, portanto, a cada crente, ler e interpretar a Escritura desprovido de qualquer preconceito ou tendência pré estabelecida por sua cultura, ou denominação religiosa, ou preferência pessoal sobre um assunto, de maneira a poder entender com exatidão aquilo que diz o Texto Sagrado.
É lendo apenas um verso que se criam as heresias. Veja, por exemplo, que toda a teologia da prosperidade, que vai levar o mundo evangélico à maior decepção já havida em todos os tempos, foi criada e é sustentada em cima da formalidade dos textos originais da Bíblia. Fica muito mais imponente ameaçar os crentes usando Malaquias 3:10 com texto formal de Almeida de que na Linguagem de Hoje. Veja na Linguagem de Hoje se daria certo?
“Eu, o SENHOR Todo-Poderoso, ordeno que tragam todos os seus dízimos aos depósitos do Templo, para que haja bastante comida na minha casa. Ponham-me à prova e verão que eu abrirei as janelas do céu e farei cair sobre vocês as mais ricas bênçãos.” (Ml 3:10) Definitivamente não funcionaria na linguagem de hoje.
Mas a Linguagem de Hoje não é a Bíblia? É uma Bíblia adulterada. Dizem que as pessoas precisam dela, porque a média de compreenção brasileiros, por exemplo, é de cerca de 3.000 palavras do português. Desta forma, a Bíblia na Linguagem de Hoje tem cerca de 2.800 palavras, ou seja, cerca de 2700 palavras a menos que a Almeida Fiel. O falecido Dr Aníbal Pereira dos Reis costumava dizer que o crente quando se converte deveria comprar junto com a Bíblia um dicionário. Verdade, porque além de admitir a ignorância do nosso povo, esta versão quer perpetuar este estado de coisas, nivelar por baixo.
Mas, e se só houver esta disponível? Bem, neste caso, melhor que nada, porque a Bíblia na Linguagem de Hoje, mesmo com todas as suas adulterações da Palavra não pode omitir o sentido maior do Evangelho. Serve apenas para fortalecer o ecumenismo e atrasar a volta de Jesus. Pode atrasar, mas não impedir. Pode tonar mais difícil ao pecador encontrar-se com Jesus, mas não pode impedir.
É possível alterar um poema de Fernando Pessoa para a linguagem de hoje? Continuaria sendo um poema de Pessoa?
Troque, se for possível, sua Bíblia adulterada pela verdadeira. A Bíblia é uma só. Se não puder trocar, capriche na interpretação.
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