Pr Eliel Banner

Pr Eliel Banner

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

OS AMIGOS DE JÓ - A BÊNÇÃO DA ADVERSIDADE

por Pastor Leandro Dorneles

A história de Jó responde a uma pergunta universal: por que os justos sofrem? A história nos revela que não foi pecado algum que o levou a ser provado por Deus, mas sim, o desejo de Deus o abençoá-lo mais, de mostrar a justiça que é pela fé, única capaz de justificar um homem diante de Deus. Também revela-nos que são em grandes momentos de adversidades que temos uma experiência de valor com Deus e que aprendemos a nos aproximar mais Dele e a conhecê-lo mais de perto.

O próprio Jó declarou a Deus depois de haver passado pela adversidade:

“Com os ouvidos eu ouvira falar de Ti; mas agora te vêem os meus olhos” (Jó 42:5).

Parece antagônico, mas é justamente a dor e o sofrimento do justo que o aproxima mais do conhecimento de Deus.

“Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (Sl 119.71).

É justamente no estado em que renunciamos nossas filosofias e conjecturas - por elas não poderem explicar o que passamos - que começamos a entender o agir de Deus a nosso favor. Muitos pregam um evangelho sem dor e sofrimento e estes são os primeiros a caírem no dia mal, porque não compreenderam a mente do Senhor nem os Seus desígnios, nem o seu coração pôde compreender que Deus criou tanto o bem quanto o mal, o dia bom e o dia da adversidade e que isso não torna Deus injusto ou mau, mas sábio, soberano e santo.

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas” (Is 45.7).

“No dia da prosperidade regozija-te, mas no dia da adversidade considera; porque Deus fez tanto este como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele” (Ec 7.14)

Embora Jó tivesse pecados como qualquer outro ser humano (pois não há um justo sequer que nunca peque) a Bíblia deixa bem claro que não foi algum de seus pecados que trouxeram sobre ele tamanha provação e desgraça. A Palavra de Deus é enfática quando declara que Deus o permitiu ser provado e tentado sem haver uma causa específica da parte de Jó. A provação de Jó não era um julgamento. Ao menos, não contra Jó, mas contra satanás.

“Disse o Senhor a Satanás: Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal? Ele ainda retém a sua integridade, embora me incitasses contra ele, para o CONSUMIR SEM CAUSA.” (Jó 2:3 – ênfase minha)

Infelizmente, nosso entendimento limitado e nossos valores equivocados à respeito do amor não nos permite compreender e aceitar que Deus criou a adversidade e isso para proveito do homem (e também para juízo) e que Deus endurece o coração de um homem (ou de um povo) para mostrar nele o Seu Poder (Rm 9:18) ou que Deus criou vasos para honra e vasos para desonra (e isso sem tirar o livre arbítrio do homem) e que tanto num como noutro Deus é glorificado, tanto nos que se salvam como nos que se perdem.

Mas o que mais me chamou a atenção na história de Jó foi algo que somente depois que experimentei é que comecei a compreender: os amigos de Jó.

A Bíblia diz que no momento de dor e sofrimento de Jó, seus amigos mais íntimos vieram consolá-lo.

“Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo esse mal que lhe havia sucedido, vieram, cada um do seu lugar: Elifaz o temanita, Bildade o suíta e Zofar o naamatita; pois tinham combinado para virem condoer-se dele e consolá-lo. E, levantando de longe os olhos e não o reconhecendo, choraram em alta voz; e, rasgando cada um o seu manto, lançaram pó para o ar sobre as suas cabeças. E ficaram sentados com ele na terra sete dias e sete noites; e nenhum deles lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande” (Jó 2:11-13).

Sem, contudo, compreenderem a causa do seu sofrimento, buscaram a resposta do sofrimento no pior lugar que alguém pode procurar: o seu próprio coração.

A única explicação lógica para aqueles homens e para aquela cultura, era que o sofrimento e a dor eram maldições conseqüentes de pecados cometidos, assim como, a prosperidade era sinal de que a pessoa era justa e estava de bem com Deus, logo, o consolo tornou-se julgamento.

Elifaz respondeu a Jó:

“Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus corrige; não desprezes, pois, a correção do Todo-Poderoso... Eis que isso já o havemos inquirido, e assim o é; ouve-o, e conhece-o para teu bem” (Jó 5:17, 27).

Pensando assim, seus três amigos procuraram achar algum pecado em Jó que justificasse sua desgraça. E tenho comigo que essa luta fora a pior de Jó. Fora pior que perder seus filhos e suas riquezas, e pior que perder sua saúde. A dor da incompreensão e julgamento injusto no dia da adversidade é a pior que se possa imaginar. Tão horrível que Jesus mesmo clamou na Cruz dizendo: “Pai, por que me abandonaste?” Todos acreditaram que Jesus era um homem amaldiçoado por Deus pelos seus pecados, pois era inconcebível que alguém justo e sem pecado algum pudesse sofrer e morrer como Jesus. Nem mesmo sua família acreditou Nele.

Jó ainda tentava ouvir seus amigos, afinal eram os seus íntimos, homens de idade, de experiência de vida, homens de honra da cidade. Mas Eliú, um amigo mais novo, percebeu que a idade e o tempo de vida de uma pessoa não era sinônimo de sabedoria.

Então respondeu Eliú, filho de Baraquel, o buzita, dizendo: Eu sou de pouca idade, e vós sois, idosos; arreceei-me e temi de vos declarar a minha opinião. Dizia eu: Falem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria. Há, porém, um Espírito no homem, e o sopro do Todo-Poderoso o faz entendido. Não são os velhos que são os sábios, nem os anciãos que entendem o que é reto. (Jó 32.6-9)

Trazendo essas verdades para os nossos dias, percebo que a história sempre se repete. Muitos justos sofrem e são ceifados da terra e não há quem compreenda isso.

Um pensador certa vez escreveu: “é tão estranho: os bons morrem jovens”.

O Salmo 73 mostra a incompreensão de Asafe a respeito destes desígnios e sua pré-loucura ao tentar entender com o seu coração. Somente quando Asafe entrou na presença de Deus foi que pode compreender essas coisas.

“As pessoas justas perecem. Os que seguem Deus morrem antes de serem velhas, e ninguém parece preocupar-se, ninguém pergunta porque é que acontece assim. Ninguém parece dar-se conta de que é afinal Deus que os está a livrar da calamidade. Porque, os que amam Deus, morrendo, repousarão em paz” (Is 57:1-2 versão Inglês).

E muita gente, por não entrar na presença de Deus, e por tentar compreender com o seu próprio coração (que é enganoso) acaba, por vezes, amaldiçoando aqueles que passam por provações e adversidades, na espera de achar resposta para a dor humana.

Hoje, na Igreja, se alguém cai, dizemos: foi o pecado! Se alguém empobrece, declaramos: é amaldiçoado. Se alguém adoece, proferimos: é porque não tem fé. Se alguém não consegue vencer numa área da vida, julgamos: é demônio.

Diferente do que muita gente pensa, a Bíblia não ensina que não devemos fazer julgamentos (criticar, indagar e declarar), mas, sim, que não devemos ser “precipitados” no julgar (declarar juízo condenatório) às pessoas sem antes ter uma visão real. Devemos primeiramente olhar o nosso próprio interior, e se ele estiver limpo, poderemos então ajudar o outro com o cisco do seu olho. Segundo, precisamos ser “pacientes no ouvir e tardios no falar” e isso é sabedoria (Tg 1:19). Se a Bíblia fosse contrária a julgamentos (enquanto senso crítico e não juízo condenatório) e repreensões, deveríamos, então, arrancar alguns versículos do NT e considerá-los “hereges”, tais como:

“E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?” (Lc 12.57).

“Não julgueis pela aparência, mas julgai segundo o reto juízo” (Jo 7.24).

”Para vos envergonhar o digo. Será que não há entre vós sequer um sábio, que possa julgar entre seus irmãos?” (1Co 6.5).

“E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem” (1Co 14.29).

A crítica é uma imposição bíblica, pois é pela crítica que somos considerados um país democrático e de liberdade religiosa, não fosse a liberdade e dignidade da crítica, viveríamos em regime militar. Não desprezemos pois o dom de criticar as coisas. Quem a despreza é porque é inseguro em suas convicções e deseja que quem o siga seja alienado, bárbaro e fanático, concordando em tudo, sendo servo de homens e não de Deus. Lembremos do Puritanismo, de Ritler e do Comunismo.

O que não podemos é sentenciar pessoas pela aparência ou por tudo o que dela se ouve, declarando juízos e sentenças que só Deus pode dar, e quem assim faz será julgado por Deus e medido da mesma forma.

Bem, mas o que devemos criticar? Pessoas? Não! Devemos criticar tudo aquilo que julgamos contrário a sã doutrina de Cristo, embora “criticar” não signifique “desrespeitar” mas sim "não concordar" e poder "emitir opinião contrária". A crítica sincera está ligada à exortação, a crítica demoníaca está ligada à acusação e separação.

Àquele que acha que qualquer opinião contrária ao que ele pense é "julgamento", pense o seguinte: Se seu filho(a) de 10 anos estiver na escola e o professor lhe passar uma orientação a respeito de sexualidade, como por exemplo, levar uma prótese de um órgão sexual masculino de borracha a sala de aula e ensinar como usar um preservativo numa relação sexual ou ensinar a fazer sexo oral seguro, este pai não irá emitir na escola sua "crítica" quanto a este ensinamento? Porque "para ele" (o pai) o ensinamento foi considerado "imoral", mas para o educador que possui princípios de moral e ética muitas vezes contrários ao ensino bíblico, não o era imoral. Da mesma forma, se você é ou fosse pastor de uma igreja, e aparece um líder religioso em sua cidade ou bairro pregando coisas que você considera heresia (e nem sempre é, de fato) e sabe que seu rebanho tem ouvido a essas “heresias” você não irá declarar sua "crítica" ou "julgamento" a respeito dessa doutrina estranha? (não confundir crítica com calúnia e difamação). Ou deixará que ele arrebate muitas ovelhas que não têm conhecimento? Você será julgado por Deus pelo cuidado que teve com as ovelhas Dele.

Voltando...

E a respeito do julgamento precipitado, sempre damos a mesma resposta a dor humana: pecado, maldição e demônios. Somos incapazes de dizer: é Deus o abençoando. É Deus o preparando. É Deus o fortalecendo. É Deus o levando a uma experiência mais profunda. É Deus fazendo justiça contra satanás.

Quantos de nós muitas vezes fazemos o papel dos amigos de Jó, e em vez de nos calarmos diante do que não compreendemos ou não temos revelação, buscamos justificar o sofrimento alheio colocando peso de culpa e julgamento contra as pessoas, seguindo um raciocínio lógico meramente humano e por vezes demoníaco. Por que não compreendemos que há adversidades que vem de Deus? Está tão claro e explícito na Bíblia!

Porque declarar isso é perder a confiança em nosso próprio entendimento, é morrer para si mesmo. É ter que aprender a confiar em Deus acima do próprio entendimento e lógica humana. (Isaías 50:10)

“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento” (Pv 3.5).

Poucos são os que verdadeiramente morrem para si mesmo. Poucos os que realmente compreendem o que quer dizer “vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”.

Como nos deixamos ser usados pelo inimigo quando agimos guiados pelo nosso próprio coração!

Pedro, amigo de Jesus, amado por Jesus, quando falou sobre quem era Jesus, foi-lhe dito: “Bem-aventurado, foi meu Pai que te revelou isso”. Mas quando o assunto era “sofrer”, falou pelo coração e foi chamado “satanás” (adversário) pelo Mestre quando não pode compreender pelo próprio coração a necessidade da dor e do sofrimento como vontade Deus na vida de Cristo. (Mt 16:23)

Paulo, grande apóstolo de Cristo, compreendia que quanto mais próximo ficava de Deus, mais adversidades passaria, e aprendeu a se alegrar com sua adversidade e fraqueza.

“Agora, eis que eu, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá, senão o que o Espírito Santo me testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações”, At 20:22-23.

Para o coração humano, a fraqueza e a dor são uma falha de caráter, uma conseqüência ou uma maldição. Para Paulo, a sua fraqueza era a Glória de Deus manifestando em sua vida.

“Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então é que sou forte” (2Co 12.10).

Se alguém hoje dissesse isso, logo seria repreendido dizendo que quem dissera isso fora o diabo, não o Espírito Santo. Porque não sabemos lidar com o sofrimento.

Quantas vezes passamos por lutas, não porque pecamos, mas porque elas são necessárias para nosso crescimento, e as pessoas tentam buscar em nós uma brecha, um pecado, um defeito, qualquer coisa para dizer-nos que estamos passando aquilo por nossa culpa.

Obviamente que nem tudo o que passamos a respeito de lutas, dores e sofrimentos, são necessariamente desígnios de Deus. Verdade que muitas vezes são conseqüências de nossas próprias escolhas e pecados, frutos que colhemos de nossas próprias ações.

“Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).

Mas quem pode discernir a diferença dessas coisas? Somente pessoas espirituais que se examinam a si mesmos e buscam ouvir a voz de Deus discernem coisas espirituais.

“Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido” (1Co 2.15).

Tenho aprendido que as lutas e adversidades que passo são poderosas ferramentas de Deus para me tirar palavras e frases decoradas, entendimentos repetitivos que são passados de geração em geração, sofismas e falácias que pessoas sem revelação nos passaram para tentar explicar o que não sabiam.

É mais fácil inventar uma desculpa do que simplesmente dizer: eu não tenho a resposta. E nesse caminho, muitos pregadores têm ministrado mentiras e equívocos ao povo, por não terem as respostas e não quererem confessar que não as têm.

A alma dos tolos não sabe receber críticas e não compreende a sua própria dor. A alma dos sábios recebe a vara da correção como remédio e o dia da adversidade como oportunidade de conhecer mais a Deus.

É na adversidade que o coração se torna contrito e o espírito quebrantado, e estes são o que Deus não rejeitará (Sl 51.17).

Vale dizer que aqueles três amigos de Jó foram repreendidos por Deus e se não fora a intercessão de Jó pela vida deles, haveriam de ser consumidos pelo Senhor. (Jó 42:7-8) E aí está outra verdade a respeito das adversidades que Deus nos impõe: a nossa capacidade de amar em tempos difíceis, de compreender quando somos incompreendidos, de respeitar quando somos desrespeitados, de ser tolerante com aqueles que não nos toleram. Isso é muito difícil e quase impossível, não tivéssemos o Espírito Santo que nos ajuda. E essa é a forma de vencermos a adversidade, agindo no inverso do que ela nos impõe, no contrário a lógica humana.

“Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.21).

Como você tem encarado o sofrimento humano? Conseqüência de um Deus injusto? Conseqüência de pecado? Ou oportunidade de Deus?

Examinemos-nos a nós mesmos, e não havendo convicção de culpa ou convencimento de pecado pelo Espírito Santo, glorifiquemos a Deus na adversidade e retenhamos nossa integridade até o fim, mesmo não a compreendendo.

“Quando andares em trevas, e não houver luz, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus” (Is 50:10).

Deus te abençoe!

Nenhum comentário:

Postar um comentário