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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Bíblia – Qual a melhor tradução – Parte 2 – os textos que deram orígem às traduções

Hoje, escolher uma Bíblia passou a ser algo tão complicado como escolher uma TV. Você chega a uma loja e o vendedor te explica que tem LCD, LED, plasma, digital, 3D, HD Ready, Full HD e faz propaganda de atributos técnicos que ninguém compreende bem o que significam, de maneira que você acaba escolhendo um modelo qualquer por cansaço. Com a Bíblia acontece a mesma coisa, pois há muitas versões disponíveis. A vantagem é que há uma só versão que preserva o texto original de Almeida: João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel ao Texto Original, publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, ou versão equivalente de outra editora.
Hoje nós temos a Bíblia pronta, 66 livros, no total: 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. A Bíblia é hoje impressa em vários tamanhos, de maneira que pode nos acompanhar onde quer que estejamos, e com a evolução das tecnologias, temos até a possibilidade de usar a Bíblia eletrônica em nosso celular, ou disponível no computador.
Ter acesso à Bíblia é muito fácil nos dias de hoje, mas antes que existisse a imprensa, os livros da Bíblia eram copiados manualmente, de maneira que é possível imaginar que um crente no ano 400, por exemplo, não tivesse a seu dispor todos estes 66 livros em casa.
Todos os livros no Novo Testamento foram escritos antes do ano 60 de nossa era, à exceção dos escritos do Apóstolo João, que foram escritos por volta do ano 90. Naquele tempo os escritos não eram produzidos em papel, mas sim em couro curtido, o que resulta que estes documentos eram guardados em forma de rolos. Eram caros e difíceis de armazenar, porque tomavam muito espaço, e desta maneira pode-se imaginar que nas igrejas locais houvesse um grande interesse nas reuniões, pois ali se programavam a leitura de livros que um certo irmão possuía, e que outros não possuíam. É um exercício interessante pensar em como as coisas aconteciam naquele tempo.
Observando o Novo Testamento, por exemplo, alguém poderia imaginar que numa certa altura os apóstolos convocaram um concílio e eles próprios, as maiores autoridades da igreja, determinaram quais escritos eram importantes e assim ficou decidido o que seria o Novo Testamento. Mas não foi algo assim; o Novo Testamento foi estabelecido num longo processo de cerca de 400 anos.
Pode-se certificar, que do ponto de vista histórico, por volta de 150 DC já 20 dos 27 livros do Novo Testamento eram tidos como canônicos, tendo sido os demais 7 livros certificados pela igreja até o final do século IV. Existem, para além destes 27 livros, inúmeros outros que falam de Jesus, dos apóstolos e da igreja, mas foram rejeitados como não inspirados.
O processo de autenticação de cada um destes livros chama-se canon, daí se dizer que tal livro é canônico, ou seja, que ele foi dado, ou certificado como autêntico pelos nossos antepassados, cada qual em seu próprio tempo.
Como se sabe, não existem mais os textos bíblicos originais, nem do Antigo Testamento, nem do Novo Testamento, apenas cópias.
Só do Novo Testamento existem mais de 5.600 documentos catalogados, alguns deles apenas fragmentos de livros, outros textos completos de um ou mais livros no mesmo documento.
O Antigo Testamento foi escrito no decorrer de cerca de 15 séculos, 1500 anos. Livros como Joel, Habacuque, e Jonas, por exemplo, são livros de um único autor. Já Salmos e Provérbios são livros de vários autores, não se podendo certificar quais foram eles exatamente.
Já os livros históricos, como Reis, Samuel e Crônicas passaram por um processo de compilação de outros documentos. Vejamos o exemplo sobre Asa, rei de Judá, descrito em 1 Rs 15:23: “Quanto ao mais de todos os atos de Asa, e a todo o seu poder, e a tudo quanto fez, e as cidades que edificou, porventura não está escrito no livro das crônicas dos reis de Judá?”.
Estas crônicas dos reis de Judá, não se referem aos livros homônimos de nossa Bíblia, mas a uma verdadeira biblioteca de relatos dos atos de governo destes reis. Não havia um único livro das crônicas dos reis de Judá ou um único livro de crônicas dos reis de Israel. Cada rei mantinha seu cronista e registrava seus atos de governo, que certamente eram datados, tendo como objetivo principal escrever a história de seu tempo, e registrar as resoluções de governo, como faz hoje o “Diário Oficial” ou outros órgãos de imprensa do estado.
Quando um rei morria e assumia seu sucessor, um novo cronista escrevia as crônicas do novo governo, e assim, sucessivamente eram guardadas as crônicas de um por um. As crônicas dos reis de Judá eram, portanto, as crônicas de todos os reis do sul, Roboão, Abias, Asa, etc., que a seu tempo foram escritas individualmente relatando os acontecimentos de cada tempo.
A vida de Salomão foi relatada no Livro dos “Feitos de Salomão”, nas “Crônicas de Natã”, na “Profecia de Aias, o silonita” e nas “Visões de Ido”. Igualmente, a vida de Davi está relatada nas “Crônicas de Samuel”, nas “Crônicas do Profeta Natã”, e nas “Crônicas de Gade, o Vidente”. Nenhuma cópia da maioria destes livros chegou até nós.
Portanto, os livros históricos que temos em nossa Bíblia são um trabalho de compilação de dezenas de documentos escritos ao longo da história de Israel e Judá.
Da mesma forma que entendemos e aceitamos a inspiração do Espírito Santo na composição das Sagradas Escrituras, também entendemos que a escolha destes 66 livros não foi do arbítrio de homens, mas sim de Deus, da mesma forma que entendemos que Deus, no seu zelo por sua Palavra Escrita, tem guardado a Bíblia, tanto do ponto de vista da integridade dos textos, como de suas traduções em todas as principais línguas faladas no mundo. Quanto à língua portuguesa, Almeida Corrigida Fiel ao Texto Original é a única que permanece intacta até hoje.
As Fontes da Tradução do Antigo Testamento
Quanto ao Antigo Testamento, há basicamente duas fontes das quais são feitas as traduções das bíblias: a Septuaginta e os textos massoréticos.
Septuaginta
Com a divisão do império construído por Alexandre, o Grande, Pitolomeu, chamado Soter, tornou-se Senhor do Egito, o qual governou entre os anos 323 AC até 284 AC. Dois anos antes de sua morte, quando renunciou em favor de seu filho mais jovem, Ptolomeu Filadelfo.
Ptolomeu Filadelfo passou a reinar em 284 AC e notabilizou-se pela boa amizade que devotou aos judeus. Conforme Flávio Josefo este governante chegou a libertar 120 mil escravos judeus no Egito a custa de seus próprios recursos financeiros, pois tais escravos pertenciam em sua maioria aos soldados de seu exército que receberam por isto a devida indenização. Por recomendação de Demétrio Falero, seu bibliotecário chefe, Ptolomeu Filadelfo empreendeu o projeto de tradução para o grego das leis dos judeus (Pentateuco) arcando plenamente com suas despesas. Assim, setenta e dois sábios judeus empreenderam esta tarefa (de onde vem o nome Septuaginta dado à tradução), consumindo para isto, 72 dias. (Hist. Dos Hebreus – Flávio Josefo, Vol 3, Cap.II, § 454)
Em verdade apenas o Pentateuco foi traduzido para o grego na ocasião, sendo o restante do Antigo Testamento igualmente traduzido ao longo do século seguinte.
Diz-se comumente que a Septuaginta foi a Bíblia utilizada por Jesus. Trata-se de uma afirmação incorreta. Basta se recorrer ao texto de Lucas 4:16-21 para verificar esta impossibilidade. A passagem mostra Jesus numa sinagoga, quando lhe deram o Livro de Isaías para ser lido. Jesus estaria lendo um texto em grego numa sinagoga em que se falava aramaico? É provável que não.
Desta forma, é mais adequado dizer que algumas das citações do Antigo Testamento nos livros escritos pelos apóstolos, estas sim poderiam ter a Septuaginta como fonte. Lucas, por exemplo, era gentio, e provavelmente a usaria. Os demais apóstolos eram judeus, e não precisariam da Septuaginta para mencionar textos do Antigo Testamento. Os crentes gentios certamente a usavam como fonte de leitura ou para provar para outros gentios que Jesus era o Messias prometido por Deus, de maneira que não se pode estabelecer aqui uma regra.
Muitas traduções do Antigo Testamento no decorrer dos séculos de nossa era foram feitas a partir da Septuaginta, tais como as traduzidas pelos católicos para o Latim, entre as quais, a famosa Vulgata de Jerônimo, a Cópta, Etíope, Armênia, Eslovênia e algumas traduções para o Árabe. A Igreja Ortodoxa Grega também mantém em sua Bíblia o texto da Septuaginta.
Textos Massoréticos
Os textos massoréticos, por sua vez, são um trabalho executado entre os séculos VI e X, entre 500 e 1000 anos depois de Jesus, por um grupo de escribas judeus, conhecidos por massoretas, cuja missão era reunir os textos utilizados pela comunidade hebraica em um único escrito a partir dos manuscritos bíblicos conhecidos à época.
O termo massorético provém da palavra “massora” que significa tradição, portanto, os massoretas eram aqueles que guardavam a tradição e a pureza da palavra escrita.
Dos textos massoréticos provém a maioria das traduções protestantes do Antigo Testamento para as linguas francas (inglês, português, francês, italiano, etc.), e da mesma maneira são utilizados pelos judeus até os dias de hoje.
Comparados com os rolos do Mar Morto, encontrados nas cavernas de Qumran em 1947, livros estes do período de 150 AC a 75 AC, confirmam a confiabilidade dos Textos Massoréticos, de maneira que se pode afirmar que seriam os mesmos textos em uso no tempo de Jesus.
Diferenças entre a Septuaginta e os Textos Massoréticos
Existem, mas são de pouca relevância, diferenças entre a Septuaginta e os textos massoréticos. Uma delas, para se dar um único exemplo, no texto de Isaías 7:14, que se refere ao nascimento de Jesus, mas também se refere a um sinal a ser cumprido nos dias de Isaías: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”.
A palavra que está traduzida por virgem, é, no original hebraico, “almâh”, que significa literalmente “jovem”, podendo ou não se referir à condição virginal da mulher. No texto que os judeus usam é traduzida como jovem e nos nossos como virgem. Neste caso os judeus estão certos.
Como a profecia tem um duplo sentido, uma vez que se refere que seu cumprimento se dará nos dias de Isaías, mas também no futuro, apontando para o nascimento de Jesus, acham os tradutores melhor traduzí-la por virgem, ao invés de jovem. É, portanto, uma espécie de gol de mão, porque na cabeça dos tradutores, referir-se a Maria como jovem, e não como virgem, poderia suscitar algum tipo de incompatibilidade com as afirmações dos autores do Novo Testamento que se referem a Maria como virgem.
Ora, interpretar ou mudar o texto, não é da competência do tradutor, que deveria se limitar a traduzir, principalmente porque quem afirma que Maria era virgem são Mateus e Lucas, o que por si só encerra a questão. Não há, desta forma, necessidade de forçar o texto de Isaías para o contexto desejado, até porque ficaria implícito que a jovem do tempo de Isaías, a quem também se refere a profecia, teria que ser virgem. Como se vê não é nada de relevante.
Novo Testamento
Já a disputa em torno do Novo Testamento é mais complicada. Desde o tempo de Jesus, até o fim do primeiro século, todos os livros do Novo Testamento foram escritos em língua grega. Nunca é demais repetir que os originais destes livros não existem mais, apenas cópias.
São conhecidos mais de 5.600 manuscritos do Novo Testamento, que basicamente se encaixam em três grupos distintos em função de sua origem: O Alexandrino, o Texto Tradicional ou Bizantino, e o grupo de textos cujas cópias vieram do mundo ocidental (Europa).
Os manuscritos encontrados no decorrer dos tempos foram associados a cada um destes grupos em função da semelhança dos textos, ou origem da cópia. Desta maneira, quando se encontra um manuscrito antigo, ele é classificado como parte de um certo grupo porque o texto é o mesmo encontrado nos documentos homônimos daquele grupo, ou porque vem da mesma fonte.
Gruposde manuscritos do NT cópia
Dos três grupos, o que possui os documentos mais antigos é o Alexandrino, e por esta razão comumente os teólogos dizem que mais antigo é sinônimo de melhor qualidade, pois supostamente estariam mais próximos dos documentos originais. Mas o fato é que tanto o grupo Alexandrino, como o Grupo Ocidental, omitem diversos trechos encontrados no Grupo Tradicional, e considerando 19 séculos de cristianismo, observa-se que a Igreja Cristã sempre preferiu Texto Tradicional, ou pelo menos usou este texto em detrimento dos demais. O Textus Receptus compilado por Erasmo vem deste grupo (Tradicional), daí, a nossa versão Almeida Fiel é dele derivada, bem como, até por volta dos anos 1940, todas as bíblias protestantes eram originárias deste grupo, também chamado Bizantino.
Grupo 1 – Alexandrino
Se refere a um conjunto de cópias antigas do Novo Testamento, de onde provém o chamado Texto Crítico da Bíblia, provavelmente produzidos em Alexandria, no Egito. Alexandria era um importante centro comercial e político da antiguidade, onde residia uma grande colônia de judeus. Fazem parte deste grupo o Papyrus 76, Codex B, Papyrus 66 e Codex Aleph, também chamado de Codigo Sinaiticus, o mais famoso de todos eles.
Cada um destes documentos representa cópias de textos bíblicos, alguns deles de quase toda a Bíblia, e alguns apenas fragmentos de alguns textos.
O Codex Sinaiticus (Aleph), por exemplo, foi descoberto no século XIX no Mosteiro Grego Ortodoxo do Monte Sinai, no Egito. Contém metade do Antigo Testamento e o Novo Testamento inteiro, além dos textos apócrifos conhecidos como a Epístola de Barnabas e porções de outro apócrifo chamado O Pastor de Hermas. Apesar de ser o mais antigo documento sobre a Bíblia, justificam os fundamentalistas que nunca foi usado por ser uma cópia ruím dos textos originais.
Portanto, quando se refere ao Texto Alexandrino, as compilações da Bíblia que dele se originam são todas questionáveis.
2 – Grupo 2 – Texto Ocidental
As traduções decorrentes deste grupo de textos são basicamente duas: a Bíblia dos Jesuítas e a versão católica conhecida como Vulgata, que o papa declara ser a única versão infalível da Bíblia. Outra versão que provém deste grupo de documentos é a Bíblia dos Jesuítas (Douay), datada de 1582, que foi escrita com o propósito de se contrapor à reforma iniciada por Lutero e Calvino na Europa.
3 – Grupo 3 – Texto Tradicional ou Bizantino
O grupo de documentos conhecido como Texto Tradicional deu origem ao chamado Textus Receptus compilado por Erasmo de Roterdã, sendo esta, a fonte mais usada até 1940 nas traduções protestantes do Novo Testamento.
O fato que basicamente valida o Grupo Tradicional como o autêntico no meio protestante é que todas as referências deixadas por escrito pelos cristãos primitivos, documentos estes que existem catalogados em diversas fontes, todos, sem exceção, quando fazem citações de textos bíblicos do Novo Testamento, estes são idênticos ao Texto Tradicional, e consequentemente diferentes dos outros dois grupos. Todas as versões protestantes da Bíblia anteriores a 1940 vêm deste grupo, não só em português, como em qualquer outra língua conhecida. Todas, sem exceção.
Textus Receptus
Textus Receptus é o termo latino que significa Texto Recebido, e designa o texto grego do Novo Testamento editado por Erasmo de Roterdã e impresso pela primeira vez em 1516.
Erasmo, nascido em Roterdã, Holanda, em 1466, foi um sábio, estudioso e símbolo do renascimento. Foi o mais famoso escritor de seu tempo. Entre seus trabalhos mais importantes estão o Elogio da Loucura (1509); De Duplici Copia Verborum et Rerum (1511); Os Pais Cristãos (1521); Colóquios Familiares (1516-1536); As Navegações dos Antigos (1532); Preparação para a Morte (1533). Escreveu também em 1526 um panfleto chamado De Libero Arbitrio em que satiriza Martinho Lutero.
Erasmo foi contemporâneo de Lutero, e até onde se sabe sempre houve respeito de um pelo outro. Quando Lutero fez a reforma, Erasmo recusou-se a aliar-se a Lutero por não estar certo de que qual rumo tomaria aquele movimento. Tinha formação católica, havendo estudado com os monges agostinianos.
Embora sua obra mais famosa seja o Elogio a Loucura, Erasmo tornou-se conhecido no meio protestante pela compilação do Textus Receptus, obra esta que deu origem a todas as traduções protestantes do Novo Testamento, incluindo a Bíblia de Lutero, a King James, e a de João Ferreira de Almeida Fiel para a língua portuguesa.
João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel ao Texto Original
Sempre que se fala de uma versão íntegra da Bíblia, a King James, na língua inglesa, se sobressai como paradígma da tradução correta dos livros sagrados. As fontes da Bíblia King James são os Textos Massoréticos (AT) e o Textus Receptus (NT).
Em se tratando da língua portuguesa, a versão hoje equivalente à King James é a João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, ou ainda a João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida da Imprensa Bíblica Brasileira.
Conforme dados da Sociedade Bíblica Trinitariana, Almeida nasceu em Torre de Tavares, Portugal, no ano de 1628. Aos catorze anos ele já estava na cidade de Batávia (hoje Jacarta, capital da Indonésia). Um dia recebeu um folheto escrito na língua espanhola que o levou ao encontro pessoal com Jesus. Logo começou a pregar nas Igrejas Reformadas Holandesas (a maior parte do povo, a quem ele ministrava, falava português, pois só fazia um ano que Portugal havia perdido o controle da região).
No ano de 1644, com a idade de 16 anos, Almeida iniciou a sua primeira tradução do Novo Testamento, usando versões em latim, espanhol, francês e italiano. Não contente com essa tradução, anos mais tarde, ele fez uma segunda, desta vez baseada no texto grego, o Textus Receptus (o mesmo usado pelos reformadores). Num folheto chamado Cartas para a Igreja Reformada, em 1679, ele escreveu o seguinte, na conclusão daquela obra, que só foi publicada em Amsterdã, no ano de 1681: “O Novo Testamento, isto é, todos os sacrossantos livros e escritos evangélicos e apostólicos do Novo Concerto do nosso fiel Senhor, Salvador e Redentor Jesus Cristo, agora traduzidos em português por João Ferreira d’Almeida, pregador do santo Evangelho”.
Almeida chegou a traduzir o Velho Testamento, de Gênesis até Ezequiel 48:31, usando o texto Massorético. Não pôde terminar os últimos versículos do livro de Ezequiel, porque faleceu em 1691, com 63 anos de idade. O volume I do Velho Testamento, contendo os livros de Gênesis a Ester, foi impresso no ano de 1748. O holandês Jacobus op den Akker completou a obra da tradução do Velho Testamento e, em 1753, o volume II foi publicado.
Desde aquele tempo os crentes de língua portuguesa utilizam esta versão.
Recentemente surgiram novas versões de Almeida, que quando comparadas com as antigas edições, nota-se várias mudanças que omitem ou alteram significativamente passagens das Escrituras. A razão básica de tais mudanças é o abandono do Textus Receptus em favor do Alexandrino, ou ainda, a sujeição do texto original de Almeida (Textus Receptus) à versão alexandrina, que não se trata de uma nova tradução, pois o revisor simplesmente corta do texto original de Almeida, ou marca entre colchetes, aquilo que não está, ou está em desacordo com o Texto Crítico.
Tomando-se como a Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA), publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil, o texto básico é o original de Almeida, vinda do Texto Massorético (AT) e do Textus Recptus (NT). Mas a revisão é baseada no chamado Texto Crítico dos originais grego e hebraico.
Justificam as mudanças dizendo que eliminaram apenas expressões e palavras consideradas antiquadas ou confusas, mantendo porém “o sabor clássico do Almeida antigo”.
Os que criticam esta versão (ARA), dizem que foi um importante passo em direção ao ecumenismo religioso., tanto que, no tocante ao Novo Testamento, a ARA recebeu recomendação oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organismo ligado à Igreja Católica.
Entre as diferentes versões de Almeida, uma que permanece fiel à tradução original é João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel ao Texto Original, publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
Nova versão King James da Abba Press
Para além da alteração da versão tradicional de Almeida, como alteraram também a preciosíssima Reina-Valera, em espanhol, também foi produzida em português uma versão King James adulterada que segue o mesmo caminho das outras, ou seja, foi adaptada ao Texto Crítico. Como os conservadores falam exaustivamente da King James como padrão de excelência bíblica, então nada mais óbvio que nivelar esta versão por baixo.
Trata-se da versão produzida pela Abba Press – Sociedade Bíblica Ibero-Americana. Vale a pena ler as perguntas e respostas no próprio site da editora para entender, ou melhor, não entender o que estão fazendo. Leia mesmo, é muito interessante: http://www.abbapress.com.br/king-james
As perguntas e respostas colocadas no link acima são interessantes. Nenhuma pergunta que eles próprios fazem é respondida. A pergunta é relevante, mas a resposta não diz nada. Vale mesmo a pena ler.
A primeira pergunta é: Qual foi a Bíblia que Almeida leu quando fazia a primeira versão para o idioma português?
A resposta seria: Leu as versões católicas disponíveis em espanhol e italiano, fez as traduções dos evangelhos e depois de terminada a tradução, rejeitou-as e fez posteriormente outra baseada nos textos massoréticos e no Textus receptus.
Mas veja o que dizem e note que nada dizem. Só a pergunta é relevante. Veja a resposta:
“Desde o final do século 19, o desenvolvimento dos estudos textuais da Bíblia, juntamente com os descobrimentos promovidos pela arqueologia bíblica, resultaram num extraordinário benefício para a restauração do Texto Bíblico. Hoje, como nunca antes, a Igreja de Jesus Cristo tem em sua mão manuscritos nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), maravilhosamente próximos dos Autógrafos das Sagradas Escrituras.
Ao mesmo tempo, estas descobertas e avanços científicos têm colocado em evidência numerosas diferenças entre os vários manuscritos, denominadas “variantes textuais”, de maneira que quando se compara as mais reconhecidas traduções do mundo moderno: “King James de 1611” (em inglês); a “Reina-Valera de 1862” (em espanhol), e a estimada João Ferreira de Almeida (em português), publicada pela primeira vez no Brasil pela Imprensa Bíblia Brasileira, em 1943 (?); com manuscritos originais mais antigos e fidedignos que aqueles que serviram de base para essas excelentes traduções, se manifestam algumas discrepâncias e erros textuais importantes, os quais a tradução da Bíblia King James procura corrigir. Esse foi o motivo da formação da Sociedade Bíblia Ibero-Americana, e muito especialmente do seu Comitê Internacional de Tradução, dirigido inicialmente por seus fundadores: Dr. Carlos W. Fushan, Dr. Bruce M. Metzger, Dr. Francisco Lacueva, e presidido no Brasil pelo Pr. Oswaldo Paião, membro da Igreja Batista do Morumbi e diretor editorial da Abba Press, responsável pela tradução dessa obra para a língua portuguesa. Assim como foi o sentimento do rei Tiago I (King James I), quando em 1607, atendendo a um pedido da Igreja, e sendo o próprio rei um cristão apaixonado pelo estudo bíblico, reuniu cerca de 50 dos melhores exegetas e eruditos do seu tempo. Também o Comitê Internacional de Tradução da Bíblia King James decidiu preservar o que de melhor há nas excelentes e consagradas traduções de King James (1611), Reina-Valera (1862), e João F. de Almeida (1943); isto é: sua forma, estilo literário (considerando que William Shakespeare foi amigo particular e grande colaborador linguístico de King James), riqueza de expressões, ainda hoje presentes na cultura bíblica de todo leitor das Sagradas Escrituras”.
Percebeu que a pergunta não foi respondida? Qual foi a Bíblia que Almeida leu quando fazia a primeira versão para o idioma português?
Sugestão: Não compre esta versão, não sustente esta gente com seu dinheiro.
Cuidado com os Comentários Bíblicos
Um aviso final: use uma Bíblia sem comentários no rodapé. Eles nos induzem a interpretar o texto pela ótica do comentarista.
O comentário bíblico é importante, sem dúvida, mas não deve ser usado até que você tenha esgotado todas as suas possibilidades na tentativa de entender o texto.
Mas, veja que os comentários que encontramos nas próprias bíblias são os piores. São rasos; não respondem nada; evitam os assuntos que realmente necessitariam de explicação; 80% do que explicam são coisas óbvias. Via de regra fogem dos assuntos complicados e erram desastrosamente em alguns temas que explicam sem qualquer apego à verdade, ou pior ainda, com uma irresponsabilidade que beira o descaso para com a Palavra de Deus.
Cito aqui uma pérola da Bíblia de Estudo Plenitude – Edição Revista e Atualizada de Almeida – da Sociedade Bíblica do Brasil. Trata-se do comentário sobre Ezequiel 1:1: “Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do mês, que, estando eu no meio dos exilados, junto ao Rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus.”
Diz o seguinte o comentarista sobre o que seria este trigésimo ano: “O trigésimo ano é, provavelmente, a idade de Ezequiel quando ele começou seu ministério”.
Mas por qual razão Ezequiel mencionaria aqui sua idade? Seria, talvez, para que seus leitores se lembrassem de seu aniversário e lhe trouxessem presentes todos os anos? Que absurdo! Que atrevimento!
Ezequiel marca aqui trinta anos desde que o Livro da Lei foi redescoberto no décimo oitavo ano de governo do Rei Josias, quando se faziam as reformas no Templo em Jerusalém (II Rs 22:8), o que motivou a renovação do pacto do povo com Deus. Trinta anos de um pacto que não resultou em nada. Mas o comentarista diz que era o aniversário de 30 anos de Ezequiel.
Prefira a João Ferreira de Almeida Fiel.

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